Piódão é um achado no interior de Portugal. Uma vilazinha linda, com casinhas de xisto, uma igrejinha branca que se destaca na paisagem e algumas plantações ao redor. Ela faz parte das Aldeias Históricas de Portugal e também das Aldeias do Xisto, e é cortada pela GR22 (veja sobre ela nesse outro post), também pela Pequena Rota PR3 AGN – Açor (a que vamos falar a seguir) e pela PR2 AGN – Rota dos Povos das Ribeiras de Piodam.
Hiking pela Rota PR3 Aguanil – Açor
Chegamos em Piódão à noite. A neblina permitia uma visão de poucos metros à frente na Serra da Estrela, que diga-se de passagem, é uma região linda! Pernoitamos no único hotel da cidade que encontramos, que tem uma estrutura excelente! Logo bem cedo acordamos e fomos surpreendidos por uma vista linda: o sol começava a nascer atrás das montanhas e dispersava a neblina, revelando a bela aldeia.
Apesar do incrível nascer do Sol, o tempo não abriu. A neblina era constante e fechada, mas não impediu de caminharmos pela região. Fomos então iniciar nosso percurso pela PR 3. Ela é uma trilha circular, com 8,7 km, desnível de 649 metros, percorrida em cerca de 4 horas com esforço moderado! Começa e termina na praça de Piódão, onde há um restaurante e uma feirinha de artesanato. O edifício que mais se destaca na paisagem é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, com suas paredes brancas e os típicos tons de azul das janelas, contrastando com a cor terra do restante da aldeia. A Igreja Matriz é do século 18, mas já sofreu várias reformas.
Por entre as ruelas com casinhas de xisto e telhados de ardósia, onde apenas o azul das portas e janelas se destaca, escadarias faziam um zig-zag que nos levaram ao topo da colina, onde após a colheita os grão são secados e batidos. Uma açãof tão tradicional que há até uma marcação histórica sobre este ato. Lá do alto também é possível ver a piscina fluvial de Piódão, que no versão fica movimentada.
Um pouco de História…
Lá pelo século 13, a região da Serra do Açor onde hoje é Piódão era povoada por alguns pastores, que encontravam pasto fértil e água limpa para a criação. Na mesma época, nas proximidades passava a antiga estrada real que ligava Coimbra à Covilhã (veja mais em informações úteis no final do artigo). Com ela, o trânsito de pessoas era grande, levando e trazendo mercadorias. Por ali viajam comerciantes, religiosos, políticos, nobreza, mas também salteadores. E foi por esses últimos que os pastores tiveram que se reunir para melhorar a sua segurança. Assim nascia Casas Piódam.
Apenas em 1676 que foi constituída a freguesia de Piódão. Nas épocas seguintes, a vila cresceu e prosperou, em especial pela criação do Seminário-Colégio em 1886. Até 1096, pela qualidade do ensino, atraía muitos jovens para preparação para os estudos universitários e também para a vida eclesiástica. Alguns dos seus alunos, inclusive, tiveram destaque na história política de Portugal.
Depois que o colégio fechou, Piódão caiu no esquecimento. Apenas depois dos anos de 1972, quando foi construída a nova estrada, que a cidade se tornou mais turística e começou a receber visitantes de todo o mundo em busca de suas peculiaridades arquitetônicas.
Piódão é tombada como Imóvel de Interesse Público e, na década de 1980, ganhou o Galo de Prata, condecoração atribuída à “Aldeia mais Típica de Portugal”. Também é apelidada de “Cidade Presépio” pela conformação da iluminação artificial das casas à noite.
Atualmente em Piódão vivem 70 pessoas (senso de 2015), porém várias vão e vem de outras cidades diariamente, deixando as ruelas sempre vazias e tranquilas. Os moradores tiram renda do artesanato, da pequena produção agropecuária e da comercialização de produtos típicos, em especial licores, queijos e linguiças (uma delícia!). Pela trilha havia várias castanheiras, e era época de maturação. Os frutinhos são usados para produzir geleias, bebidas, biscoitos e licores (vale a pena provar!).
O trajeto da trilha de Piódão apresenta as belezas da Serra do Açor, onde se pode observar a rica fauna e flora locais. Ainda como ponto interessante há o Memorial a Miguel Torga, que é o pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século 20.
Seguindo a trilha, um cenário rural tranquilo e sem movimento. Só ao longe Piódão se destacando entre a vegetação verde. Finalizamos o percurso da de volta à praça, onde passamos rapidamente no Núcleo Museológico do Piódão, que fica junto a Igreja Matriz e abriga fotos, documentos, artefatos, objetos, bem como informações turísticas de onde ficar, onde e o que comer, quais os demais percursos pedestres disponíveis, entre outras dicas de Piódão e da Serra do Açor.
Depois de Piódão, seguimos para Chãs d’Égua, e essa trilha contamos aqui nesse outro artigo.
Como chegar em Piódão
Não há outra forma de chegar em Piódão que não seja de carro. Nenhuma linha regular de ônibus ou trem chega até o vilarejo. A cidade mais próxima (21 km) com linha de ônibus é Pomares, pela Rede Expressos a partir de Coimbra.
De Coimbra a Piódão são 96 km; de Lisboa, 295 km; e de Porto 197 km. As estradas são boas, mas pela Serra do Açor é preciso ter cuidado, em especial à noite, pela neblina, curvas acentuadas e inclinação constante.
Informações úteis
- A história da estrada real que passava na Serra do Açor, que ajudou na formação de Piódão, é resgatada pela trilha PR2 OHP – Caminho do Xisto de Aldeia das Dez II – Rota Imperial, das Aldeias do Xisto. É uma trilha circular de 12 km, fácil de percorrer em cerca de 3:30min. O trajeto inicia no Largo Alfredo Duarte, em Aldeia das Dez, segue pelo Vale de Maceira, passa por Chão Sobral (o caminho velho para o Piodão com vista linda da Serra da Estrela), cruza a antiga Ponte Medieval de Alvôco das Várzeas, e seguindo junto Rio Alvôco retorna à Aldeia das Dez.
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