Busójárás: o Carnaval de Mohács na Hungria

Patrimônio cultural da humanidade, o festival Busójárás celebra o fim do inverno com desfiles, fantasias aterrorizantes e fogo!

E havia chegado o Carnaval. Como todos os anos, nós estávamos tentando fugir da folia. Mas, em 2015 foi diferente. Estávamos morando em Budapeste, na Hungria, e já era final de inverno.

Em uma rua próximo ao parque, um cartaz indicava um evento diferente que aconteceria em outra cidade. Chamou nossa atenção. Era o Busójárás.

Em casa coloquei o nome na internet e encontrei! Trata-se de um evento tradicional que acontece há anos na cidade de Mohács, no interiorrrr do País, já pertinho da fronteira com a Sérvia.

E lá fomos nós descobrir como ir para Mohács em pleno sábado de Carnaval.

Indo para Mohács

Pelo rome2rio, o site que sempre consultamos para saber como chegar de um ponto a outro no mapa, foi fácil ver que tanto ônibus quanto trem ia para Mohács. Optamos pelo ônibus, que ia direto a partir de Budapeste em uma viagem de cerca de 5 horas.

Um pouco de História…

Mohács fica a 210 km da capital húngara, uma cidadezinha bonitinha com cerca de 17 mil habitantes, que é famosa pela festa de Carnaval e também pela Batalha de Mohács, ocorrida no dia em 29 de agosto de 1526 entre o exército do Reino da Hungria, chefiado por Luís II, e os turcos otomanos sob a liderança de Solimão, o Magnífico. Tem até um monumento fazendo referência a esse acontecimento.

A chegada foi bem tranquila e logo na rodoviária já tinham cartazes indicando a programação do Busójárás. E a música ao longe também não deixava ninguém se perder.

O Festival

Busójárás é uma celebração dos Šokci (grupo etnográfico de eslavos meridionais) habitantes de Mohács, que ocorre todo final de inverno.

Um pouco de História…

Conta a lenda que o início do Busójárás se deu na época da invasão otomana em Mohács, quando a população fugiu da cidade e foi morar nos pântanos dos arredores. Em situação complicada durante o inverno, quando vários conversavam próximo ao fogo, apareceu um ancião que disse: “Não tenham medo, suas vidas irão melhorar em breve e poderão retornar ao lar e ao cotidiano tranquilo. Mas antes, será preciso se preparar para batalha. Portanto, criem máscaras assustadoras, preparem vestes de animais e consigam muitos utensílios para fazer barulho, e aguardem uma noite de tempestade, quando vocês receberão um chamado do cavaleiro mascarado”. E o ancião desapareceu tão repentinamento quando surgiu em meio ao fogo.

E assim fizeram. Aguardaram e, em um anoitecer com uma chuva torrencial, o cavaleiro apareceu e ordenou-lhes para colocar as máscaras e voltar para Mohács fazendo tanto barulho quanto possível. Eles seguiram a sua ordem. Os otomanos ficaram tão assustados com o barulho, as máscaras e a tempestade, que achavam que demônios estavam os atacando e fugiram da cidade antes mesmo do amanhecer. A partir daí, todos os anos, celebram a volta para a casa.

Já outra lenda conta a mesma situação, porém seria para espantar o inverno mesmo!

Seja qual for a lenda, a cidade ainda hoje se organiza e enfeita para a celebração, que dura seis dias. Ele começa na quinta-feira antes do Carnaval e segue até a Terça-feira Gorda ou Mardi Gras (Farsangtemetés), quando ocorre a maior celebração.

Durante todos os dias, os homens se vestem com pelegos de animais e usam máscaras assustadoras de madeira, além de vários adornos de ferramentas e produtos rurais. São os Busós (pronuncia-se buchos). Já as mulheres usam vestidos típicos, mas com um lenço no rosto, e carregam bengalas e pás de madeira.

E aí a brincadeira começa! Os fantasiados saem em desfiles pelas ruas provocando as pessoas e vale (quase!!) tudo: abraços, agarros, bengaladas e tapas no bumbum. As mulheres provocam os homens e vice-versa. Carros e carroças alegóricos enfeitados como se tivessem saído da colheita complementam o cenário dá festa, que recebem grupos de Busós também de outros países.

Na rua da praça de Mohács a feira com produtos artesanais e comida rola durante todos os dias. E lá provamos o lango, uma espécie de pizza com massa de pão com queijo e molho de tomate, e também o vinho local. Aprovados!

A festa segue pelos seis dias com programação de danças típicas no palco armado na praça, música, comida e muita alegria. Mas, é no último dia do Busójárás que a celebração fica grandiosa.

Acabando o inverno com fogo

No último dia, um caixão representando o inverno é construído e trazido em desfile até a praça principal de Mohács, onde está armada uma fogueira enorme.

Os participantes já ficam ao redor da fogueira atentos, aguardando os Busós posicionarem o caixão em um pedestal. Após todo um ritual, os “animais” tacam fogo nos gravetos secos e na madeira. É a simbologia de um tchau bem rude para o frio.

O caixão logo some entre o fogo e a fogueira se reduz a cinzas. Busójárás acabou, agora só no próximo final de inverno. Bem vinda primavera! 😉

***
O Busójárás é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial dá Humanidade desde 2009. Um viva às tradições que se mantêm firmes e fortes pelo mundo!

Na volta para Budapeste, fizemos uma parada para hiking em Pécs, mas antes tivemos uma história bem inusitada na estação de trem de Mohács. Veja aqui essa história, a cidade linda de Pécs e o seu patrimônio da humanidade escondidinho.

 

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